Publicado : 2012-7-17
1. Estamos num mundo que é regido por investidores,burocratas banqueiros e políticos que vivem completamente separados da realidade das pessoas, um mundo em que o poder do dinheiro controla a política. Um mundo em que a religião separou esta vida terrena, feita para trabalhar e criar filhos, da vida espiritual, adiada para depois da morte, em que só aí se encontra Deus e se sabe quem somos como almas.
Desde 2008 que a única preocupação tem sido salvar os bancos da bancarrota. Todo o dinheiro - que de resto é meramente inventado pelo nível superior, dos bancos e mecanismos centrais, europeus ou outros - vai só para os bancos e para as dívidas contraídas por governos corruptos e não para as pessoas e para as empresas. O mundo faz assim os seus sacrifícios bárbaros no altar do dinheiro. De mãos dadas, os sacerdotes do dinheiro e os seus empregados políticos oprimem esta humanidade, que contudo podia ser feliz!
A situação ocorre no planeta inteiro, não é só em Portugal: há muito sofrimento e uns pagam, até com a vida, a ânsia de lucro dos outros.
2. Tudo isto que se vê tem origem numa visão do mundo, chamada Anglo-Saxónica, por corresponder á maneira de ser dos ingleses e dos norte-americanos. Ela é baseada na ideia de que o dinheiro, a economia e os negócios são o mais importante da vida das sociedades, as quais devem ser regidas por esses valores e é também baseada na ideia de que a ciência terá resposta para tudo, uma ciência mecânica, que reduz tudo ao visível, que tudo separa e especializa, que tudo quantifica e transforma em números, que transforma as almas em estatísticas.
Esta visão do mundo anglo-saxónica tem vindo desde há duzentos anos a invadir o mundo, sendo completamente oposta á forma como os latinos, os eslavos, os árabes, os latino-americanos e os orientais veem a vida e o mundo. Até agora ninguém denunciou esta conquista invisível. Contudo, quem a estudar verá todas as ramificações dos seus efeitos.
Também, a nível mais profundo, o que se passa é que desde que nos separámos da unidade original - vista como realidade ou como uma história- todos nós, humanos, sofremos de um deficit de identidade, faltando-nos um sentido claro para a vida. Ninguém sabe quem verdadeiramente é, nem o que quer. Para colmatar esse deficit de identidade e sentido buscamos ter mais dinheiro, mais poder e mais coisas, em vez de reconhecer que o que necessitamos é de mais satisfação, mais qualidade de vida, mais afecto, mais alegria e mais tempo e que, na realidade, queremos ser reconhecidos pela nossa contribuição para a sociedade.
O trabalho verdadeiramente livre é essencial para a realização da pessoa; para ela gostar de si, dos outros e da vida. Só que já não devemos pensar na forma antiga do trabalho, das 9 às 5, que se tornara uma escravidão e que já não vai mais voltar. O trabalho será a tempo parcial, só trabalharemos aquilo que for preciso, para nós e para o colectivo; deixará de haver fronteira entre o que fazemos como trabalho e os nossos lazeres criativos.
Estamos todos a despertar para o sentir que tudo está ligado, que, por exemplo, o roubo que fizemos há 10 anos está ligado á doença que sentimos hoje, que se o mundo sofre, não podemos ser inteiramente alegres e felizes. Sabemos agora que carregamos em nós o sofrimento do mundo.
Como pano de fundo de toda esta situação está a crença de que não há o suficiente. Não há suficiente dinheiro, suficiente amor, suficiente tempo, suficiente energia. Esta é uma atitude fundamental que temos de mudar em nós: ver e sentir a abundância. Sem ela tudo continuará como dantes.
3. Estamos em Julho de 2012. É possível que neste Outono a situação se torne insustentável. A miséria, o desemprego, as falências, os incumprimentos terão crescido, bem como a falta de imaginação, solidariedade e ousadia do novo por parte dos responsáveis. O risco de uma guerra no Médio Oriente será real, podendo levar a uma guerra mundial.
Parece-me que o ponto de partida é o de tomarmos responsabilidade pela nossa vida. Não vale a pena culpar ninguém, não vale a pena projectar nos responsáveis por este descalabro toda a nossa inércia, o nosso desinteresse, a nossa cobardia, o nosso egoísmo. Fomos nós que criámos esta desordem em que vivemos. Agora temos é que andar para a frente. Em pequenos grupos começarmos a criar coisas positivas, diferentes do que já foi feito e está a ruir. Temos que nos conhecer uns aos outros e fazer coisas juntos. Para isso é bom saber quem somos e o que queremos como povo.
Somos um povo com História, que sabíamos fazer coisas quando tínhamos confiança uns nos outros e sobretudo no projecto dos governantes. Algo nos unia, uma maneira de ser e uma forma de olhar o mundo. Não nos considerarmos superiores ou inferiores, não ligarmos tanto ao dinheiro e á ostentação, conseguirmos fazer as coisas de muitas maneiras, sabermos equilibrar o ócio com o negócio, não andarmos a copiar os outros, sermos tolerantes e abertos, curiosos das maneiras novas de fazer as coisas, de novos ingredientes e receitas.
Também nessa maneira de ser não separávamos a terra do céu, não precisávamos de intermediários entre Deus e os homens, pois tudo é divino e em tudo está o uno. Esse também o amor que os portugueses sempre sentiram pela Natureza.Creio que ainda é possível, se o quisermos, dar esse exemplo ao mundo; de sermos solidários, amigos uns dos outros. Pois os suicídios na Grécia ou os massacres na Síria passam-se dentro do nosso coração. Talvez tenhamos mesmo que sair do euro e tornarmo-nos auto-sustentáveis, vivermos baseados nos nossos recursos. Talvez mais pobres, mas certamente mais honrados, mais fieis á nossa alma.
De resto, essa Europa dos burocratas de Bruxelas nunca chegará a lado nenhum, o projecto europeu falhou. Quiseram fazê-lo baseado no dinheiro e não na alma e no espírito. Não souberam valorizar o melhor de cada povo, tentaram nivelar tudo pela produtividade e acabou na escravatura e no vazio da matéria. Faltou-lhes sabedoria. Uma visão integral da vida que abrangesse desde o material ao espiritual.
Temos agora que aprofundar a democracia, para que cada um sinta que está a ajudar o destino colectivo. Todos não somos demais. Há um sonho que nos pode animar e mover. Assim como em tempos tivemos um projecto nacional comum, ainda agora é possível ousar. A barca está prestes a calar fundo. Temos que nos dar as mãos e lançar mãos á obra! Preparar uma sociedade alternativa, justa e sustentável, que possa ir emergindo ao lado do consumismo que se afunda. Não é tarde para salvar Portugal, não é tarde para dar a volta ao mundo!
É ainda possível uma forma de governação em que só os honestos, os que querem mesmo servir o país e a Terra e aqueles que tenham sabedoria e visão possam ajudar-nos a sair desta infindável crise, desta bancarrota moral e espiritual do sistema que controla o mundo.
O que essa honestidade, inteligência e espírito de serviço anunciam é que - sem competição e de forma fraterna - surgirão espontaneamente novas hierarquias em espiral, baseadas na competência e virtude e no assumir natural de responsabilidades e no cumprir das verdadeiras necessidades colectivas. Serão pois idealistas enraizados na terra, pessoas que não separam o amor ou o espiritual do trabalho, da economia, da sociedade e da política.
Para os portugueses, hoje como sempre, a hora é agora!
Comments