Publicado : 2011-12-22
DIGNIFICAR A FUNÇÃO PARTICIPATIVA
O que é participar? Tudo. Como somos todos uno, tudo o que ensinamos, tudo o que trabalhamos, tudo o que damos é uma extensão do nosso ser, da qual não nos desligamos. Tudo o que fazemos, fazemos por nós, todo um universo que demos nos voltará em átomos.
O ego vive num mundo de dualidade, de carência e de limitação. Para ele, participar é uma doação que faz do seu tempo e que só se justifica se se inclui numa actividade lúdica ou se com isso acaba por ganhar algo ou, pelo menos, sentir-se mais aliviado.
Normalmente chama-se á função participativa trabalho. E o trabalho tornou-se obrigatório, como um serviço civil, no contexto de se ter que ganhar a vida que contudo nos deram.
Nesse sentido, criou-se á face da Terra duas raças: a dos artistas e escritores, que são os criadores e fazem o que gostam e demonstram o que são e os que de alguma forma são escravos do sistema, que vendem o seu tempo e esforço e, na, realidade o seu corpo, para manter vivo um ente colectivo que os controla, domina e deles se alimenta.
Dignificar a participação é dar-nos conta de muitas coisas:
Que não somos verdadeiramente donos do nosso tempo, pois o momento é eterno. Nesse contexto, devemos como que criar tempo, insistir em expandi-lo ao alinharmo-nos pela consciência. Assim iremos vivendo fora do tempo.Que os outros são uma extensão nossa, que existem para nos lembrar daquilo que em nós não estamos directamente a tratar. Nesse contexto devemos estudar as pessoas que nos aparecem pois todas tem parte do nosso espelho perdido.Que ? se habitualmente a vida já é um contínuo ajustar e negociar do exterior com o interior ? se torna essencial, quando nos tornamos responsáveis pela nossa vida e sabemos que cada pensamento vai criar repercussões, que esse ajustar se faça do interior para o exterior e não ao contrário, como é habitual. Nesse contexto é necessário treino para ser proactivo em vez de reactivo.Que a propriedade privada, independentemente de se acreditar ou não nela, se torna um usufruto vitalício, um meio de contribuição para o uno e uma forma de reforçarmos a nossa alegria através do fluir colectivo. O que temos, quer sejam objectos, o corpo, os nossos pensamentos ou os nossos afectos é para lhe dar o melhor uso. Nesse contexto, devemos analisar, por exemplo, as nossas compras e o uso que lhes damos. Vermos realmente qual é o vazio que preenchem. Também, ao conhecermos pessoas, tentarmos ver por que nos parecem especiais.
O mero acto de ver é participar, estar vivo é uma relação. Mas é nossa a decisão de como vemos e de como nos relacionamos, ou, no fundo, de como nos vemos e de como nos tratamos.
Se tudo é um espelho, participar é limpar esse espelho do pó acumulado, é refazer a imagem que se fragmentou em mil pedaços. Assim, só quando nos damos é que nos vemos (e nos vêem) verdadeiramente ao espelho?
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