Publicado : 2011-11-7
Este texto poderia chamar-se Juventude traída pois esta geração foi riscada pelo poder. E será por isso que esta juventude que agora protesta representa a verdadeira oposição e alternativa aos poderes instituídos da partidocracia e do dinheiro.
No Ocidente não há oposição. Ambos os partidos - que se vão revezando e criando um infindável e anárquico drama e comédia políticos, que consomem as energias e os dinheiros nacionais - ambos tem a mesma falta de ideologia e de valores reais. Ambos defendem o status quo impossível de um sistema em acelerada implosão. O futuro, os jovens, as crianças, a natureza não lhes interessam, pois eles não votam, não podem ser enganados e não pertencem ao curto prazo da sobrevivência política, ao navegar á vista que caracteriza os actuais gestores, a que chamam políticos. Uns seres sem visão nem imaginação, sem coragem nem solidariedade.
Esses jovens que protestam, se manifestam e se indignam tem hoje por si a justiça e a legitimidade.
Há quem não saiba o que é a legitimidade. Um poder deixa de ser legítimo quando se torna injusto, quando quebra o contrato social, quando não pode assegurar a gestão presente e futura dos interesses colectivos. Poder e autoridade deviam andar juntos.
Infelizmente, a autoridade moral e espiritual foi abandonando o poder político, que, dominado por uma visão materialista e ilusória da vida, se tornou um caminho de egos imaturos e pessoas corruptas e gananciosas. Por isso digo que a legitimidade pertence aos que hoje protestam, porque estão em sintonia com o espírito de solidariedade, de amor e de partilha a que este planeta é agora chamado. Pois a legitimidade, hoje como sempre, é a ligação, consciente ou inconsciente, com o transcendente, com a alma do mundo, com a Mãe Terra, com a ordem universal.
Mas o que digo é que esses jovens terão que se organizar e terão que constituir alguma forma de liderança representativa. E, mais do que isso, terão que apresentar uma alternativa que não seja só algo semelhante ao que tem ocorrido nos últimos séculos no Ocidente.
O artigo que escrevi há dias sobre A tragédia da inconsciência não tinha por objectivo dar para trás nos jovens. Pelo contrário, apoio integralmente o que eles reivindicam e assim o disse em 12 de Março e 15 de Outubro. Só que o que eles pedem não é uma alternativa radical ao menu que nos é servido há duzentos anos.
Eles não questionam as bases profundas em que está construído o sistema. Poderei estar enganado, mas creio que para muitos deles o bem-estar ainda está ligado ao consumo,ao crédito, á ascensão social, á manutenção e estabilidade da burguesia. Ainda acreditam no mito do progresso dirigido pela ciência. Uma concepção de vida alternativa, baseada em comunidades, num regresso á natureza e aos valores fundamentais do espírito, não parece ser o seu modelo, ou, pelo menos, não falam muito dele.
Claro que estou a generalizar, que há cada vez mais jovens que se interessam por permacultura, por transição, por meditação, por vida alternativa. Mas, nos contextos da contestação urbana é mais de reivindicações do Estado social que se trata e menos de alternativas integrais, que incluam o aprofundamento da consciência. Por isso digo que esquerda e direita, novos e velhos, só querem bem-estar material, segurança e consumo.
Para mim não vale a pena protestar sem propor algo diferente. Ora esse algo diferente tem que ser algo que dê sentido á vida das pessoas, tem que ser algo que responda às grandes perguntas de quem somos e porque estamos aqui. Mais do que dinheiro e empregos aborrecidos é uma questão de dignidade, criatividade e participação das pessoas na vida colectiva.
Esse é pois o meu apelo aos que lutam pela mudança: que se alinhem mais pelo espírito, o espírito que anima a emergência desta nova consciência global!
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