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João Motta

Os Banqueiros Anarquistas

Atualizado: 11 de jun. de 2019


Publicado : 2011-10-23




Várias coisas têm em comum os banqueiros e os anarquistas: o divino foi evacuado das suas equações e ambos sofrem de falta de tempo.

Uma pessoa que dedica a sua vida ao dinheiro empobrece. Porque aquilo em que trabalhamos tinge toda a nossa vida, espiritual e emocional. Porque o dinheiro compra e corrompe tudo: a identidade, os afectos, a falsa segurança. Instiga à arrogância e à separação.

Nem os banqueiros nem os anarquistas se interrogam sobre o sentido da vida, estão demasiado ocupados na acção. Não lhes ocorre trabalhar sobre o seu ego, desconhecem a palavra consciência.

São ambos seres materialistas, para quem a matéria é o que conta. Isto apesar de alguns banqueiros se vestirem com a capa da religião cristã, aquela que foi fundada por um anarquista que expulsou os vendilhões do templo e que teve no despojamento de São Francisco o maior exemplo de entrega ao divino e de amor e solidariedade para com os homens e com a natureza.

Na realidade há duas visões da vida, a daqueles que, banqueiros ou anarquistas, acreditam que a vida é feita de acasos sem sentido, que tudo são casualidades, coincidências, acidentes ou mesmo destino, ou aqueles que já reuniram as provas de que a vida tem sentido e nada ocorre por acaso.

Na Índia milenária existem quatro castas, que, no Ocidente, continuam reproduzidas ,de forma mais ou menos visível ou invisível, nas nossas sociedades: os brahmin (a casta sacerdotal, os intermediários com o divino), os kshatrya (os reis, os nobres, os guerreiros), os vaishyas (os comerciantes) e os sudras (os trabalhadores manuais, os artesãos).

Ao longo das épocas, o poder passou dos reis iluminados e divinos para os guerreiros. Em 1789 o poder passou para as mãos dos comerciantes que desde então não o largaram, com consequências progressivamente mais gravosas.

Enquanto os reis e os políticos (em geral oriundos da classe kshatrya) iam mantendo os comerciantes e banqueiros na ordem, ao serviço de valores colectivos e se apoiavam nas liberdades do povo e dos municípios, a Ordem manteve-se, o Estado das Ordens tinha a sua legitimidade.

O drama da nossa é época é que o poder caiu totalmente nas mãos dos comerciantes. Ora os comerciantes vivem obcecados pelo maior lucro. Buscam incessantemente comprar o mais barato possível para vender o mais caro possível. São seres com pouca visão e empatia social. Não são criativos nem amorosos. A posse e a acumulação são o seu motor e a sua identidade. Definem a sua vida pelos negócios que fizeram.

Quando na Rússia a classe burguesa, em nome do proletariado, tomou o poder em 1917, foi proposto á humanidade um sonho de sociedade sem classes. Contudo, devido á natureza humana, que não quer trabalhar sobre si própria, antes prefere projectar tudo para o exterior, o sonho transformou-se em pesadelo.

A humanidade tem agora a oportunidade de um novo salto quântico. Passar a um estado de consciência mais alargado. É o Uno que oferece esta oportunidade.

A fraternidade humana não é um sonho, a reconquista do paraíso parece possível, mas, para isso as sociedades terão que se abrir á consciência, terão que ter tempo e lazer para se interrogarem sobre as questões essenciais da vida. Para isso é preciso acabar com o domínio dos comerciantes sobre a sociedade. A visão anglo-saxónica do mundo, segundo a qual o economismo deve reger a sociedade e na qual os políticos só existem para facilitar a vida dos comerciantes, deve ser encarada, estudada e sacudida. É um cancro que corrói o planeta.

Contudo, dos políticos de agora, oriundos da classe comercial, necessariamente deslumbrados pelo modelo, status social e alavancagem financeira dos magnates, nada se pode esperar. Nem uns nem outros sabem distinguir o preço do valor. Ambos são meros gestores, sem visão a largo prazo. Escravos da matéria e do tempo.

Contudo, sem o saberem, os políticos, os banqueiros e os anarquistas, de extrema-esquerda ou extrema-direita estão a fazer o trabalho do divino: o caos que está a rebentar por todo lado levará necessariamente a humanidade a uma nova Idade Média. Resta saber se ela será regida pelos valores do espírito ou pela separação e a escravatura.


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