Publicado : 2013-4-17
Todos temos crenças, mesmo os ateus. As nossas crenças visam dar sentido á vida e estão muito ligadas ao que julgamos ser. São mapas para atravessar a vida.
Para os orientais e para os ateus ou agnósticos, a vida, de certo modo, não tem sentido. No outro extremo estão aqueles para quem nada de mais pequeno não tem uma significação precisa na economia geral do universo, um destino.
Muitos sentem agora que esta vida é um teste, uma escola de evolução, um purgatório de acções passadas, uma aprendizagem para formas mais evoluídas de ser.
Para a maioria das pessoas, o que se chama vida é fugir á dor e buscar o prazer. E, a nossa vida é um constante negociar entre o interior e o exterior: como reagir ou agir perante o que nos afectou e como influenciar o que se vai passar.
Há dois meses que uma afirmação de uma amiga me ecoa na memória: a iniciação cristã é diferente da oriental. Porque, para um cristão, para um ocidental, temos uma missão a cumprir, viemos cá por alguma razão.
Parece-me que só tem sentido dar uma resposta a esta questão se ela se aplicar aos dois tipos de seres humanos: os que já despertaram e os que -ainda adormecidos- julgam estar despertos.
Por despertar entendo aquele momento em que se deixa de ser uma pessoa separada do resto e se flui com a vida e com o universo.
Para um ser desperto, seja ele cristão ou budista, ocidental ou oriental, a vida não tem sentido, isto no entendimento que habitualmente se dá a essa expressão. Ou seja, de algo exterior a nós que nos informa ou julga ou espera algo de nós. Um aferidor, uma lente. Interior ou exterior.
Porque realmente somos nós que damos sentido á vida. Tudo é um emaranhado energético, vibrações que o nosso cérebro vai estralejando. Tudo é neutro. Tudo é um contínuo, do mais ao menos, do negativo ao positivo.
Somos nós que, momento a momento, vamos descobrindo o código que nos dá sentido ao agora. É uma cifra totalmente subjectiva, nada se aplica a todos, pois, de resto, todos somos o centro do nosso universo, que é completamente diferente do dos outros.
Um ser desperto não vive a sua vida. Ele é a vida. Não precisa de pensar ou tomar decisões. A vida vai vivendo através dele e ele tornou-se um instrumento ou expressão da vontade divina. É deus em acção; deixou de haver deus ou universo que lhe seja exterior e lhe peça algo.
Nesse sentido, a vida ocorre. Mas o que é a vida para os outros? Será só o fluir de certos padrões, por vezes repetitivos, senão obsessivos, de pensamentos e emoções? Será uma luta constante para tentar impor os nossos preconceitos ao resto do mundo e á natureza?
A minha resposta é que tudo está bem, tudo tem um sentido que nos escapa, nada nos deve preocupar. Devemos fazer, sem questionar, aquilo que momento a momento nos parece certo e assim, de certo modo, vamos refinando a intuição e o alinhamento.
Despertos ou não, a vida vai-nos fazendo sentido momento a momento. A questão então passa a ser: queremos imprimir-lhe um sentido, dar-lhe uma direcção? Volto então á ligação inicial: tudo depende de quem julgamos ser.
Como para a maioria o ser está ligado ao mais e ao menos e ainda precisam de ser (ou seja, ter, mesmo que não material) mais, o sentido da sua vida é esse. Tornarem-se naquilo que ainda não são. Naquilo que querem ser e que dá sentido á sua vida.
Qualidades necessárias? Humildade, flexibilidade, curiosidade, inteligência, perseverança, aceitação.
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