Publicado : 2011-9-23
Um dia se escreverá a história de como as comunidades intencionais ajudaram a evolução da humanidade. Porque é nelas que se está a escrever a história do que é agora possível á humanidade avançar em termos de relações pessoais e na sua relação com a Natureza e com o Cosmos.
Depois de ter conhecido o mundo e as suas culturas através de viagens e da Carreira diplomática, na última década tenho-me dedicado a conhecer comunidades e grupos.
Vi muitas coisas em comum e percebi muitas coisas que referirei no fim deste ensaio. Este primeiro texto é uma introdução ao tema, que será desenvolvida posteriormente.
Primeiro quero contar os meus encontros nos últimos meses. Acabo de regressar de uma viagem de um mês por Itália. Estive em Florença, num seminário de dez dias, chamado Becoming, com o Andrew Cohen, professor de Não Dualidade. È um norte-americano de ascendência judia, que publica neste mês de Setembro um livro, intitulado Evolutionary Enlightenment, onde resume as suas teses e práticas, divididas em duas partes, Being e Becoming.
Éramos 300 pessoas vindas de todo o mundo, todas partes dessa comunidade global emergente de seres que estão dedicados a entrosar a sua evolução pessoal com a evolução da humanidade.
Fazíamos três horas de meditação (o being, ou o ser) diária e trabalhámos a proposta do Andrew: depois de ter feito muita meditação, ele concluiu que meditação e iluminação são a mesma coisa, esse estado relaxado mas alerta, e que o desafio (o becoming ou agir e transformar) agora, sobretudo para as pessoas como nós que tem já algum trabalho espiritual feito, é o de evoluirmos em grupo, de podermos criar um estado colectivo de consciência que possa um dia, por efeito do campo morfogenético, estender-se ao resto das pessoas que desejam evoluir.
Depois de uns dias em Veneza- onde comprei três máscaras para a próxima performance que vou fazer- segui para Turim, a meia hora da qual se encontra a comunidade de Damanhur.
É um lugar extraordinário, na realidade um mundo diferente, com regras diferentes e moeda própria. Cerca de 600 pessoas vivem lá, às quais se agregam mais 400 Damanhurianos que vivem noutros lugares de Itália e do planeta.
Seria difícil descrever todas as características desta Federação de Comunidades. Foi fundada em 1977 por um jovem de 23 anos, conhecido por Falco com mais 12 pessoas. O seu principal cartão de visita são os extraordinários Templos da Humanidade, escavados á picareta dentro de uma montanha. A sua filosofia, de grande profundidade e vastidão, serve de suporte a uma visão muito activa do mundo, onde todos trabalham, com grande dedicação, sobretudo na construção de mais templos, dedicados á espiritualidade e culturas humanas.
Esta comunidade artística e individualista evolui constantemente, com base na experimentação e no jogo. Literalmente, pois os seus cidadãos jogam o jogo da vida com os seus quesiti (perguntas, questões ou demandas) e o jogo do risco, que é representado por um grande mapa mural onde as pessoas vão desenvolvendo as suas civilizações e se vão treinando na tomada rápida de decisões. Apesar de individualistas, o sentimento de Popolo ou alma colectiva está presente de forma subtil, pois os Damanhurianos são como que uma nova raça, mais responsável, decidida, espiritual e cooperativa.
Entretanto, vou agora partir para Tamera, uma comunidade cerca de Odemira, onde a partir de amanha vai decorrer, por dez dias, a Escola de Mistérios, fundada por Sabine Lichtenfelds.
Tamera representa uma nova proposta, um lugar de paz e de cura. Para o interior do ser humano, entre os sexos, de paz com as crianças e com os animais e, sobretudo, de regeneração da Natureza, através da criação de paisagens aquáticas á base da retenção da água das chuvas. É um laboratório onde ao longo de décadas se tem experimentado e evoluído a condição humana.
Para mim tem sido extraordinariamente estimulante conhecer estes lugares, aos quais agrego outros que também tenho visitado nos últimos meses, como o Projecto Vida Acordada de Peter Bampton, estudante e amigo de Andrew Cohen, cerca de Arganil e a comunidade, de várias casas, ao pé de Dornes, com leigos e monjes Nova Era, ligada aos ensinamentos de Trigueirinho e á sua grande comunidade de Figueira, no Brasil.
A humanidade está perante grandes escolhas e possibilidades de evolução, e talvez mesmo de um salto quântico. Nesta altura de reconhecida crise planetária, em que falhou o modelo materialista de vida, economicista e tecnicista, é nestas comunidades, bem como noutras abordagens, por vezes a elas associadas, como a Permacultura e o Movimento Transição, que me parecem estar as sementes e as direcções do futuro.
Com efeito, a humanidade, sobretudo aqueles que tem avançado mais, precisa de descobrir e praticar uma nova forma de ser e de estar onde a individualidade se possa integrar na comunhão com um grupo mais vasto. Ora as famílias tradicionais, as nacionalidades e as religiões já não conseguem dar vazão a este desejo. Só as comunidades intencionais, essa família universal, o consegue materializar.
As novas comunidades representam assim o futuro. Não só por terem realizado essa conciliação em liberdade (sem ser num ambiente de seita, com líder poderoso e separado e com dogmas antigos e bem definidos), mas também porque buscam praticar a auto-sustentabilidade energética e alimentar e também porque prosseguem uma relação de respeito e cooperação com a Natureza e uma relação entre humanos baseada no Amor e não no Poder.
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