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João Motta

Estágios de Evolução

Atualizado: 11 de jun. de 2019


Publicado : 2012-1-15


Escrevi nos princípios dos anos 80 esta tese, que agora alargadamente reescrevo:

A vida dos seres humanos, tanto a nível individual como a nível da humanidade, atravessa três estados, que se podem descrever em vários tipos de linguagem:

É o estado do feto na barriga da mãe, do ser que ainda vive no Paraíso, da pessoa que vive na sua tribo ou clã. O seu modo de sentir a vida e agir é pelo instinto.É o estado do bebé que foi lançado ao mundo, o Filho Pródigo que deixa a casa do Pai, da pessoa que veio viver para a cidade. O seu modo de relação com a vida é pelo intelecto, pelo raciocínio, pelas emoções e o sentimento.É o ser que, depois de ter atravessado suficientemente os dois estados anteriores, já está preparado para abdicar do seu ego, que volta á unidade da casa do pai, que já pode ser uno com a Natureza, na realidade, uno com tudo e com todos. O seu modo vida é a intuição. O amor e a alegria que sente não são emoções mas estados de espírito.

Durante o estado 1 a pessoa identifica-se com o todo, com a mãe, com o ambiente que o rodeia e com a família, tribo ou clã que lhe dá o sentido da vida e a identidade como grupo. No Vietname não existe a palavra eu, a pessoa descreve-se por laços de parentesco.

Durante o estado 2 a pessoa conseguiu libertar-se do campo, conseguiu domar e controlar a natureza, já tem identidade própria, já tem um nome, já tem uma família que considera sua, tem o seu carro, a sua casa. A cidade dá-lhe liberdade, autonomia, poder de escolha. Permite-lhe a busca - por vezes desenfreada ou incessante - de identidade, através de pessoas e objectos. Sente necessitar de cultura, que julga estar no exterior. Reage aos estímulos sociais, que o enquadram e orientam.

Durante o estado 3 a pessoa já não tem medo de perder a sua individualidade e a sua união com o todo é consciente e diferenciada. Essa pessoa vê-se nos outros, sabe que a realidade é um espelho. Esse ser é necessariamente gerador de cultura, naturalmente criativo e provavelmente pró-activo em relação á sociedade.

Durante o estado 1 essa unidade é pois inconsciente e indiferenciada, é a participação mística que os sociólogos e antropólogos do século XIX atribuíam aos selvagens primitivos. Tudo tem alma, mesmo os objectos ditos inanimados, com a qual a pessoa está em contacto. Esse ser vive fora do tempo, quanto muito vive o tempo cíclico, dos calendários sagrados ou das estações onde a vida acaba e se renova.

Durante o estado 2 a pessoa pode sentir vergonha do passado rural ou tribal dos seus pais ou avós, da vida de servidão e incultura em que viviam. Tem orgulho no seu nome, que o diferencia, buscas características e marcas de status que confirmem a sua individualidade e mesmo superioridade em relação á massa. Esse ser, rico ou pobre, vive prisioneiro do tempo e controlado pelo dinheiro. A natureza e o cosmos deixaram de ser conscientes e tudo são objectos separados, senão antagónicos, que lutam por sobreviver e pela supremacia. A vida é regida pelo acaso. Aqui e ali ocorrem algumas coincidências inexplicáveis. A ciência terá resposta para tudo.

Durante o estado 3 a pessoa sente que tudo tem sentido,que não há acasos e que as ditas coincidencias são só a parte visível do iceberg em que tudo está em sincronicidade, tudo está a ocorrer no momento eterno. Ela sabe que, como humano, tem uma missão de serviço. Na realidade, esse ser - que se identifica com o uno e está ao serviço do uno - sabe que a sua missão é a sua identidade e a sua identidade é a sua missão. Assim, no estado um há unidade, no 2 separação e no três unidade. O sentido de comunidade, ou seja de pertencer a algo, nem que seja um gang ou clube de futebol, aparece nos três estágios. Contudo, se a pessoa não viveu o estado 2, se não teve, poder-se-ia dizer, suficiente vida nocturna nas madrugadas da cidade, ou suficiente reconhecimento profissional ou social dos seus pares, ser-lhe-á mais difícil imaginar a ultrapassagem do ego e a integração numa comunidade intencional orientada para a unidade e para o uno.

A nostalgia da unidade está na alma portuguesa. Uma comunidade em Portugal em 2012 pede pois aos seus membros que estejam conscientes dos seus percursos. Daquilo que ainda querem da realidade tridimensional. Do que verdadeiramente os move para além de sentirem que o caos se pode estar a avizinhar, que estão fartos de viver nas cidades e de quererem viver no campo.




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