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João Motta

DE ONDE VEM O EU? I

Atualizado: 3 de jun. de 2019


O eu é somente uma ideia repetida, um hábito, um esquecimento. É uma crença na continuidade. É uma crença no tempo. É a crença de que é necessário o tempo para dar coerência á vida.

O tempo é a crença e o crente é o eu. Tempo e ego são como duas faces da mesma medalha. Aquilo que os gnósticos chamariam a queda na separação ou melhor, na separatividade.

O eu é pois a crença de que é necessária coerência e ordem para viver. Sentindo-se separado, sabendo-se instável e incoerente anseia por ambas. É essa a crença que escora o seu sonho.

Como aparte, poder-se-ia dizer que nunca devíamos ter crenças. Que - como deuses criadores ou como Deus ou universo em acção- deveríamos estar continuamente a criar as nossas crenças segundo a ocasião, sempre fluidas e mutáveis, sem memória emocional. Não se chamariam crenças mas sim regras, técnicas ou métodos de criatividade.

É importante compreender que os pensamentos por si só não são o eu. O eu é a ideia de que os pensamentos têm que se juntar, é uma ideia de continuidade, um exemplo ou aplicação dessa ideia de continuidade.

Devemos pois dizer ao ego: eu aceito o caos, a desordem, a descontinuidade. Abro-me ao desconhecido! (é o que o ego em geral mais teme).

Há dois modos de pensar. Um, o do ego, é como que oblíquo, como que o itálico num texto, o outro é como que a escrita normal, vertical. Entre essas duas formas de ver o mental não há evolução ou transmutação, o que pressuporia alguma continuidade, há antes uma libertação ou um despertar. Dá-se uma singularidade. Um buraco negroengole o ego.

Portanto, o problema não é tanto o haver pensamentos, mas sim a crença de que há alguém que os pensa, um dono ou autor deles, algo que se cola ou está preso a eles.

Como os gases intestinais, os pensamentos ocorrem por si, não temos que os reclamar, não temos que lhes ligar, que saber que comida, física ou intelectual, os originou.

O ego é como uma flatulência ou uma verruga. Sendo vazio e passageiro, apresenta-se como sólido. E, para se justificar, inventou o mito da solidez da matéria, um espelho á sua medida…

II

A doença do Alzheimer é um estado de clutter, de lixo mental, é a acumulação de dados superficiais, de cores desintegradas. É o preço da distração, o epítome da irresponsabilidade do ego.

Tanto no Alzheimer como na libertação se faz o vácuo mental. Só que o Alzheimer é a síncrese de elementos díspares, ao passo que a libertação é a síntese do desnecessário.

O despertar limpa os pensamentos, o Alzheimer acumula detritos, restos de pensamentos inconclusos, escombros que não permitem o fluir elástico dos neurónios através das sinapses. O Alzheimer é uma forma última de depressão ou de alergia. A obstrução das sinapses cria um muro, o muro que defende os deprimidos e os alérgicos. Defesas…

O Alzheimer é só um paroxismo do ego. É só uma forma de o corpo se vingar do excesso de pensamentos inúteis, que não foram levados á sua libertação criativa. É um excesso de letras no cérebro, letras que vão solidificando e provocando artroses, senão hematomas, nas sinapses…

Enquanto houver eu haverá Alzheimer, de uma forma ou de outra. Isto apesar de se poder descobrir a sua cura, pois o genoma são programas, quatro letras que se repetem.

O Alzheimer e o autismo são formas de o corpo se rebelar, são alergias do corpo ao pensamento, mais precisamente à ideia de que é necessário alguém para centralizar, coordenar, dirigir, guardar e reutilizar os pensamentos. O corpo está farto do ego. Na nossa época aliou-se ao universo para se verem livres do eu.





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