Uma das áreas mais interessantes do novo paradigma que está a emergir é o das relações humanas. Como o paradigma é integral, qualquer área está relacionada e é coerente com as outras, só se percebendo essa coerência e unidade quando se apreende o paradigma como um todo.
O paradigma anterior era baseado num modelo exclusivista , separativo e sentimental. Agora o que está a emergir é um estado em que os seres se associam por afinidades, por sintonia, por alianças. Já não é baseado no casal ou nos namorados, já não tem qualquer objectivo de criar cópias ou filhos. São relacionamentos libertadores e não fonte de prisões e desadequações.
Igualmente para uma realidade em que os seres estão cada vez mais conscientes de que são espíritos a ter uma experiência humana- a ideia não é continuar a multiplicar sentimentos, emoções e pensamentos, em geral repetitivos e não criadores. Antes um estado de criatividade, onde as projecções que fizemos ao longo desta vida e não só, são recolhidas na sua densidade e- tornando-nos mais leves e habitando o aqui e o agora- nos vamos libertando da crença no tempo e da ilusão do espaço.
Deuses ou semi-deuses, tornamo-nos criadores mais conscientes da nossa realidade. Damo-nos conta de que somos responsáveis pelas pessoas e eventos que ocorrem na nossa existência e o interior vai-se fundindo com o exterior.
Assim, as pessoas que nos aparecem são partes de nós que convocámos com um fim específico. Temos algo a ensinar uma à outra, somos complementares, ajudamo-nos a recordar quem somos.
Antes de aprofundarmos a questão da afinidade associativa, vamos expor alguns postulados que poderão escorar as conclusões que propomos.
1 A realidade de cada um é subjectiva. Cada um vive no seu mundo, no seu universo. Com um verniz de realidade colectiva ou consensual. Isto deve-se a existirmos num estado fragmentado, em que se perdeu a unidade original.
2 Somos todos parte de um puzzle, de um todo que se está a reconhecer. O uno é a origem e o fim para que se tende. O regresso ao estado original é a principal razão de existir. É esse poder que unifica, que tudo irá conjuntar, que anima a nossa jornada.
3 As diferenças entre homem e mulher, ou entre homo e heterossexuais não fazem muito sentido para um espírito (que contudo escolheu uma experiência humana específica). São uma limitação e não fonte de identidade, são polarizações e não uma resolução. A direcção é no sentido da androginia, da integração do feminino e do masculino.
Com base nestes três postulados podemos imaginar a associação de certas pessoas.
Todos são iguais. Neste sentido, não há hierarquias e a liderança é temporária para situações específicas ou tarefas. O acordo, mais do por consenso é feito por sintonia, por alinhamento em precisão com um eixo e uma ordem original mais vasta.
Ninguém se pode aproveitar energeticamente de um outro. Todos têm que sentir que dão e recebem em justiça e correspondência.
Existe um apoio automático ao elo ou elos mais fracos. Cada um os reconhece como as partes de si que têm que ser mais trabalhadas, equilibradas ou guiadas.
A base é a complementaridade: cada um tem algo a dar que os outros não têm. Dá-se assim um trabalho de reconhecer e aprofundar o que cada um pode dar e precisa de receber. Tanto ao nível de sabedoria, como de psicologia transcendente, bem como ao nível material e financeiro.
Um trabalho permanente é o da caça aos preconceitos separativos. Tudo o que nos afasta dos outros e impede o uno de fluir.
Há qualidades requeridas para se evoluir em conjunto em direção á unidimensionalidade: transparência, honestidade, coragem moral, audácia, empatia, alegria, humor. O Amor vai sendo reconhecido como aquilo que tudo liga, a cola universal.
Dentro da afinidade associativa existem certas pessoas com as quais partilhamos uma maior intimidade e reconhecimento recíproco, onde existe um maior grau de compromisso, de integração e de trabalho comum, onde o objectivo de manifestar o uno se torna mais evidente, mais presente ou premente.
São pessoas em quem temos mais confiança, em cuja sabedoria mais acreditamos. Pessoas que nos conhecem melhor. Pessoas ou partes de nós em que a evolução para um estado mais integrado nos parece mais prometedora. Seres em quem queremos investir. Pessoas que nos levam a aprofundarmos mais as nossas sombras e que nos ajudam a transmutá-las. Seres que facilitam a descoberta e o irradiar da nossa luz.
São seres com os quais o nosso espírito sente uma maior liberdade e facilidade de expressão. Seres mais abertos a entregar á fogueira do uno tudo o que separa. Seres mais dispostos a abrirem-se progressivamente um ao outro ou outros, apesar dos medos. Seres pelos quais melhor nos deixamos reprogramar.
Assim se criam geminações associativas, que, contudo, não são especialismos ou particularismos, pois são abertas, podendo incluir duas ou mais pessoas. Nestes casos, a associação vai criando obrigações livremente assumidas de ajuda recíproca. De apoio e de guia.
Esses seres ou partes do todo que se encontram em afinidade são aqueles onde sentimos que o divino mais irradia, aqueles que melhor nos espelham a nossa natureza profunda, são as provas visíveis de que trabalhamos para o uno.
Nessas geminações associativas vai-se fazendo o depuramento das emoções e dos pensamentos. Esses seres são para o outro um auxiliar de presença. Cada um cumpre um papel marcado em relação ao outro. Há um reconhecimento, uma fraternidade natural.
Ambos sabem ao que vieram. Não para laços emocionais, afectivos, sentimentais, passionais, mas para a revelação do amor universal e incondicional, para a alegria constante, para o trabalho criativo, para o serviço em que o espírito naturalmente se realiza.
No novo paradigma o relacionamento é em proveito do espírito. As personalidades são o material a moldar e a alinhar por um propósito mais vasto. A sintonia, a empatia, a afinidade comunicativa e a justiça distributiva são ondas vibratórias através das quais os espíritos facilitam o encontro, criando um contentor seguro onde o todo se pode manifestar como uno.
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