Publicado : 2013-4-16
Quem estudou a vida das revoluções, como a francesa de 1789, a russa de 1917 ou mesmo as portuguesas de 1910 e 1974, sabe que, apesar de necessárias e inevitáveis, todas traíram os seus objetivos.
Porque, no caldo humano que nelas intervém, acabam por vir ao de cima os mais ambiciosos, os mais sedentos de protagonismo, os mais ressentidos, os mais cruéis, os mais insensíveis e, na verdade, os mais feios.
Além disso, o povo, em nome do qual se faz as revoluções, tende a ser uma massa informe que por vezes o que quer é voltar ao rame rame habitual, á falta de imaginação, aos jogos, ao pão, á televisão e á matéria. Quantos querem responsabilidade, cooperação, evolução, uma vida em verdade e ver para além das aparências e das ilusões?
E assim, as revoluções são apanhadas pela burguesia essa classe sem identidade, tradição ou coração - que em nome da ordem se substitui ao povo, como motor e gestor das revoluções, das quais se aproveitam. Foi assim que em Portugal, a partir de 1834, tivemos os devoristas, esses comerciantes e nobreza liberal, que devoraram os bens da Igreja e do Estado, deixando o povo tão pobre quanto antes.
Vemos também na revolução russa e na nacional-socialista alemã de 1933 que as vanguardas, ditas esclarecidas, acabam por criar um Estado ainda mais forte, grande fonte de opressão, supressão e repressão.
Pode-se dizer agora que as ideologias morreram nos escombros da guerra de 1939-45, que temos paz e somos ilustrados, ou pelo menos informatizados. Mas a natureza humana é a mesma: os nossos políticos actuais são tão incompetentes e corruptos como os do liberalismo monárquico e republicano.
Nem a questão do regime interessa. Uma monarquia poderia ter algumas vantagens de estabilidade e seriedade, mas tudo dependeria do rei que fosse escolhido, como em 1383 e 1640. Pois até em Espanha se viu que um rei que prometera, acabou por revelar pés de barro e, tanto em Espanha como em Inglaterra, a família real, numa época de abaixamento geral de standards, é fonte de vergonha nacional. Além disso, as castas régias, não só degeneraram mas em geral nunca foram inteligentes ou cultas: sempre preferiram a caça, os cavalos e os cães aos livros e aos quadros.
Quando um governante instalado ou um líder revolucionário projetam sobre o colectivo a sua mesquinhez pessoal, os seus medos ou as suas carências de infância. Quando ele é por natureza cupido ou tem imaginação a mais ou a menos, bom senso a mais ou a menos, excesso de idealismo ou de materialismo, isso pode ter consequências terríveis para milhões.
No caso de Portugal, quando vemos pessoas como Passos Coelho ou os economistas que o rodeiam, o que sobressai é o irrealismo: sacrificam a realidade baseados em receitas económicas falhadas ou em esperanças ideológicas desmistificadas durante esta grande recessão de 2007- 2013.
Muito outra foi a revolução popular de 1383-87, em que os portugueses, contra a sua própria nobreza - de fidelidade hispânica ao rei de Castela - se revoltaram contra o invasor. Aí foi que primeiro se afirmou o direito nacional, o ser português, pois o direito dinástico e legítimo já não correspondia aos desejos e necessidades das pessoas.
Assim como os castelhanos e devoristas tinham perdido a legitimidade natural, assim os actuais governantes deste planeta perderam a legitimidade espiritual, política, social e ambiental.
Mas, para quê revoluções e mudar os mesmo homens por outros que se poderão revelar ainda mais incompetentes, cruéis ou corruptos?
Tanto o rei de França Luís XVI, como o Czar Nicolau II da Rússia eram pessoas bondosas, só que pouco inteligentes e completamente divorciadas da realidade do seu povo. Tal como os actuais governantes, nacionais e internacionais, que não conseguem ou não querem ver a nova etapa em que a humanidade está a entrar.
Só uma revolução na sua consciência pode ajudar as pessoas - governantes e governados - a serem felizes. E essa pressupõe o tomar responsabilidade integral pela nossa vida. Não há ninguém para acusar, pois as personalidades são programas.
Ou seja, aquilo que julgamos ser é meramente um conjunto de memórias, desejos, expectativas e preconceitos a que chamamos Eu.
Temos que ter a humildade de reconhecer que somos programas e a vontade de encarar os nossos medos e de nos querermos melhorar e reprogramar.
O que é necessário são pessoas honestas, inteligentes e felizes, que não precisem de mais dinheiro, nem de serem mais importantes. Só essas podem desinteressadamente servir o colectivo. Estará o povo preparado para se abrir a novas formas de governança para além da falsa democracia que rege o nosso mundo ? Ou ainda terá que sofrer mais ?
AS REVOLUÇÕES - Parte 2
As pessoas pensam que a cultura é como que uma atmosfera social subtil, mais concentrada em certos lugares como teatros e bibliotecas. Mas não: a cultura está dentro de nós. É a nossa maneira de ser e de estar, as nossas actividades e interesses, que, com persistência e empenho, dão sentido á vida e ao universo e vão animando a sociedade a evoluir.
Cultura, apesar de variada, não é dispersão, é ligar as várias partes e actividades, é aquilo que cimenta e dá identidade a um projecto colectivo, seja ele uma empresa, uma família, um clube, uma nação ou uma raça. Ela floresce, por vagas - como na Grécia antiga, no Renascimento ou no Movimento hippy - quando existe uma visão que liga todas as facetas da vida e da realidade. Assim, a cultura não separa o espírito da matéria, os livros e espectáculos do desporto e da educação do corpo.
Também, no domínio paradoxalmente mais vasto e mais restrito da identidade, há algumas perguntas que nos podemos pôr.
Se nos habituámos durante décadas da nossa vida e milénios da nossa sociedade a depender do exterior, deus ou universo; se sempre precisámos de nos alimentar a partir de fora, de comida , sexo, amor, sono, livros e jogos, esses programas ditos instintivos que nos ensinaram, como podemos criar autonomia, autossuficiência e ter a comprovação de que a energia que nos alimento é interior, é divina, é cósmica? Se temos emoções que nos sugam, pensamentos que nos obcecam e preconceito que nos controlam, como podemos largar a jangada e mergulhar?
Se, para nós, a divisão básica é entre interior e exterior, se a pele é a fronteira de tudo, se o centro comercial e o supermercado são o nosso centro geográfico, como poderemos ter confiança no universo ou no mundo interior? Se damos o nosso poder às crenças colectivas e nos demitimos do cargo de deus? Se queremos continuar como vitimas competitivas em vez de criadores cooperativos?
Se vivemos numa cadeira de rodas autista ou acreditamos nas patranhas da História e nos dogmas das novas religiões da Ciência e da Economia, como nos poderemos abrir às maravilhas do cosmos e dos seres que o habitam, como poderemos encarar os nossos fantasmas e medos?
A humanidade vive um sonho colectivo que por nós foi necessário. É um pesadelo ou buraco negro de que estamos a sair.
O Português é um encoberto que se desconhece. Somente se intui e sente. Eterno poeta, sonhador, irmão e vagabundo. Não fomos feitos para o mundo das contas e cobranças, para esta realidade da economia, disciplina e austeridade forçadas.
Viemos antes para abolir os trabalhos forçados e as ideias de termos que ganhar a vida e de termos que ser alguém. Fomos feitos para, hoje e sempre, darmos novos mundos ao mundo. Descobrirmos novas maneiras de ser e de estar. Ligar coisas que pareciam impossíveis, improváveis ou desconexas. Improvisar, brincar, desfrutar e testar novas maneiras e formas mais flexíveis de ser e de cooperar. Isto em vez de tentarmos ser como os outros. Que, como os germânicos ou os anglo-saxónicos, vivem para competir, planear a rigidez, construir prisões ultrapassadas, apertar, sofrer, controlar e comercializar.
Isto não quer dizer que viemos para ser preguiçosos, mas sim para romper com o ciclo vicioso de tudo o que nos faz sofrer, tudo o que separa, tudo o que faz guerra á consciência. Viemos propor o direito á aventura, ao instável, á mudança e talvez ao vazio
Revoluções - Parte 3
Está se a dar uma revolução de consciência neste planeta. Portugal, hoje como em 1974, é um laboratório de ideias e práticas, onde formas de ser muito diversas coexistem, seres da Idade Média como Alberto João Jardim e seres do futuro como as crianças índigo ou cristal que já nascem ensinadas.
Há em Portugal um cadinho cultural baseado na nossa capacidade de sentir as várias formas do universal, que é única neste planeta. É de resto por isso que, ao contrário dos outros povos, somos cada vez mais nós próprios, singulares e fazedores de pontes, quanto menos estamos identificados com uma cultura específica e nacional.
Diz-se que Nova York é um caldo de culturas, assim como Londres o foi. Mas não se comparam com Portugal, porque o anglo-saxónico não consegue compreender e sentir as outras culturas, muito menos assimilá-las, como nós o fazemos todos os dias. Por isso que é em Portugal e na América Latina que a nova cultura, de solidariedade social e cósmica está em gestação.
A Europa terá que se render. O projecto burocrático já deu o seu contributo para a evolução. E, por mais triliões que imprimam, já não poderão comprar a consciência dos povos. Em Portugal ainda há uma luzinha
O despertar é colectivo e, pelos vistos continua a ser pelo sofrimento que a evolução individual e colectiva se acelera.
Aqui e ali, nas cidades e nos campos, vários ou muitos de nós vão despertando, dando-se conta do teatro que é a vida, das máscaras que fomos usando, dos papéis por exemplo de pai, gestor, cidadão o que, vamos, melhor ou pior representando.
Só que a massa colectiva parece continuar presa do hipnotismo dos jogos televisivos, das novelas, das notícias negativas e da magia do futebol - o qual, se virmos bem na televisão e para nos seduzir, nos é mostrado como dança, como escultura e como filme, portanto como um produto cultural.
Assim, o homem, que nasceu para intervir civicamente na gestão da colectividade nacional e para empregar construtivamente o seu espirito de acção e competição, canaliza para a distração, para a inconsciência, entretenimento e a alienação aquilo que poderia dar aos outros, realizando-se a si próprio. A televisão, por seu lado, continua a agir como um soporífico que mantém açaimado o animal social.
Será que aquilo que procuramos fora e que obtemos de forma passageira estará por dentro e de forma permanente?
Assim, para aqueles de nós que estamos despertando, o desafio é como compartilhar e fazer sentir aos outros que a vida vem de dentro para fora e que o divino irradia a partir do nosso coração.
Só assim eles poderão sentir uma consequência disso: que a sociedade e os governantes não são maiores do que nós, exteriores que nos limitam e condicionam, mas sim partes de nós, reflexo e espelho em que vemos a multitude que somos, as formas como nos dividimos e desarmonizamos e o mal que fazemos a nós próprios.
Se comemos carne, como nos admiramos que cortem as florestas do Amazonas para cultivar soja e alimentar vacas? Se fumamos, como nos queixamos da poluição do ar e dos chemtrails?
A vida é integral, tudo está interligado e tudo se afecta: como comemos ou fazemos amor está ligado e influencia como votamos ou não e como ouvimos as notícias. Se temos uma abordagem impaciente ou desresponsabilizada da vida, comemos rápido de mais, podemos ter ejaculação precoce, não tiramos tempo para estudar a relação entre as promessas dos partidos e o seu incumprimento. Se ouvimos as noticias negativas ou agitadas enquanto comemos, isso leva á má digestão e ao desequilíbrio emocional.
A vida é um jogo em que, em geral, se sai pela porta rotineira da morte. Para ganhar o jogo e sair não é preciso competir, é só preciso relaxar e não separar o interior do exterior. A revolução da consciência que o nosso coração universal nos pede não é difícil.
Só que temos que parar, ir olhando para o espelho interior das nossas emoções e pensamentos, para os eus que julgamos ser e para as subpersonalidades que nos controlam ao longo do dia.
Podemos aprender muito connosco próprios. E, no fundo, que viemos cá fazer? Saber quem somos, talvez transformar a matéria em luz...
Tags: #ConsciênciaPolítica
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