Publicado : 1997-9-7
Como artista plástico ou do corpo os meus objectivos são os mesmos: levar as pessoas a interrogarem-se sobre qual é a realidade, propôr-lhes pistas em direcções alternativas ao seu quotidiano, permitir-lhes um ponto de vista donde possam relativizar a sua visão do mundo. Para mim exercer arte é uma forma de autoconhecimento, de reencontrar e reactivar partes perdidas ou esquecidas de mim próprio.
Os meios ou os métodos utilizados variam: Nos “Jardins Mágicos” há um regresso ao prazer lúdico da infância, busco ser surpreendido, busco que os “quadros” que componho me façam rir ou me permitam encontros místicos. Em relação ao espectador, quero que ele partilhe esses momentos da minha surpresa inicial e que – através da “história” que lhe é contada – ele possa entrar num mundo paralelo onde a ficção se mistura naturalmente com a realidade, de uma forma por vezes vertiginosa. Dá-me grande prazer quando – pela magia que emanam as peças e pelo poder incantatório da palavra (sobretudo oral) – as pessoas fazem perguntas que mostram que estão a acreditar na “história”. Fico também tocado quando as pessoas, por si próprias, sentem e compreendem o místico ou o irónico das peças e sinto-me agradecido quando as pessoas propõem as suas versões alternativas das “histórias”. Nas performances que realizei os ambientes ou histórias não são muito diferentes: o uso de máscaras, o fascínio pelo Oriente, o transcendente, o papel do guerreiro sagrado, a ironia, a relação com a infância. Numa performance que realizei recentemente em Macau aprofundei a fusão dos géneros: “animar à escala humana” algumas das figuras miniatura dos J.M. : desde o shaman à Imperatriz da China.
Estou consciente de que existem realidades paralelas e que a Arte é uma via de acesso. Nesse sentido, para mim, toda a arte verdadeira é mágica e religante, no sentido de que permite a intuição do invisível. Tem-se escrito bastante sobre o papel do artista como medium ou como shaman. É que para ser artista é preciso ser um bom espelho da sociedade que nas suas obras se reconheça, mas, para ser um “verdadeiro” artista é preciso ir mais além: não basta mostrar que a “alma” se perdeu, é preciso ir buscá-la aos infernos, a esses céus ou infernos que só dentro de nós se podem descobrir.
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