Publicado : 2011-11-3
O mundo vai mudar radicalmente. Contudo, a falta de imaginação da maioria das pessoas, a sua incapacidade de ver que esta realidade consensual só tem mais algumas semanas ou meses de vida, é um triste presságio de que as coisas vão acabar mal para todos.
Os jovens não têm termos de comparação e de referência, os velhos já não aprendem nem querem intervir.
Num momento em que a velha ordem mundial está em abrupto colapso, não há actores á altura da situação.
Num momento em que uma nova realidade pode ser criada por um punhado decidido de actores, todos estão presos ao passado, todos juram pela grande ilusão.
Assistimos á emergência de uma consciência global, mas as pessoas ainda sentem e pensam de uma forma limitada e local.
A característica mais dramática da nossa época foi o completo apagamento do espírito pelo materialismo do dinheiro e das aparências.
Numa altura em que os poderes instituídos já só podem contar com a polícia e com os media, que continuam a dar-lhes asilo, quem aparece como alternativa são os movimentos de protesto dos indignados.
Contudo estes movimentos estão presos das suas contradições e da sua heterogeneidade.
Primeiro, são em geral compostos de jovens. Tem o seu idealismo, o seu comprometimento com uma causa que os ultrapassa, a sua inteligência. Mas infelizmente já são o fruto de uma educação materialista e consumista que lhes fechou os horizontes mentais e emocionais.
Por outro lado, tem uma inquestionada aversão à ideia de liderança, de autoridade, de ordem. Não parecem querer investigar muito o que poderá significar uma liderança temporária, natural ou espontânea. No seu desejo de igualdade e democracia perdem tempo excessivo e não se conseguem unir para formar uma direcção e apresentar uma representação. Uma liderança e imagem pública unida, clara, definida, coerente e com um mínimo de estabilidade.
É neste contexto que estes movimentos protestam e reclamam, mas o que desejam é só o reviver da sociedade de consumo a que se habituaram. Velhos e novos só querem voltar ao passado. Ninguém quer imaginar a sociedade onde quer viver.
Ora para ser uma alternativa ao sistema actual, a proposta tem que ser radical. Não poderão ser só as ilusões de um emprego estável e de uma economia em crescimento constante. Quem fala em proteger os direitos sociais, o emprego, a saúde, a educação, a cultura, esquece que todos esses sectores da vida social obedecem a uma visão global do mundo, a uma ideologia, que, pelo facto de não ser declarada, não deixa de existir.
Um exemplo dessa manipulação das massas é-nos dado pelos E.U.A. Aí, os Republicanos conservadores conseguiram o truque supremo de fazerem votar pelas suas propostas de defesa dos muito ricos, as massas da classe média e baixa. Com duas ideias fortes: por um lado, apelar ao individualismo, à ambição e ao espírito de competição, seduzidos pela miragem da riqueza ao alcance de todos e, por outro lado, à ideia de que o trabalho, a austeridade e os valores religiosos devem ser o fundamento da vida em sociedade.
Numa altura em que o casamento entre a democracia e o capitalismo acabou em divórcio, é uma alternativa autoritária que se perfila. Com a esquerda vendida ao neo-liberalismo e os sindicatos paralisados pela falta de imaginação, é natural que a direcção do processo seja despoletada pelas revoltas das massas nas ruas do mundo.
A tragédia é que as pessoas não queiram ouvir falar de um modo de vida alternativo, mais baseado no ser do que no ter, mais nas comunidades intencionais do que no egoísmo a um ou a dois, mais na descoberta de si próprio do que no consumo, mais no aprofundar que no dispersar, mais na criatividade e na consciência que no álcool e no futebol, mais no amor que na competição e separação.
Infelizmente a maioria dos jovens dos movimentos não tiveram tempo para trabalhar sobre si próprios, ainda acham que o ego é tudo, ainda estão totalmente identificados com o que pensam e sentem.
Ora o desafio agora posto à humanidade é a ultrapassagem do ego, então posto ao serviço de novos valores que só podem ser espirituais, integrais e holísticos. O humanismo está enterrado. O passado já deu o que tinha a dar.
Todos somos individualistas, mas todos desejamos comunhão. As famílias e as nações já não nos chegam. Mas quem se quer abrir a uma nova vida, mais vasta, solidária e completa? Quem se quer juntar num grupo decidido e consciente com uma visão clara e uma missão definida?
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