A RAÇA DOS 2.2

A raça dos 2.2 não é muito antiga nem muito conhecida, sendo contudo a única raça híbrida, que inclui anjos, humanos e humanóides.

Resultou de uma necessidade sentida em certo estágio da evolução dos universos em que o Divino necessitava de recorrer a seres neutros que conseguissem compreender e abarcar pontos de vista muito diversos e mesmo opostos. Neutros também pela sua reacção ante situações, seres e eventos. Esta raça não é verdadeiramente uma raça, antes uma identidade difusa, que só se coagula quando a cada membro é atribuída uma missão.

A razão por que lhe foi dado o nome, ou número, de 2.2 surgiu no planeta Terra. Os primeiros indícios da sua existência como raça surgiram na Inglaterra do século XVIII. Também, no século XIX, durante o domínio inglês na Índia, existia um corpo de cavalaria, misto de ingleses e indianos, que estava sempre em estado de alerta, pronto para partir imediatamente para qualquer lugar. Antes, só tinham havido alguns indivíduos que se tinham posto ao serviço incondicional do Absoluto. A razão por que a raça dos 2.2, de resto tal como a Maçonaria, surgiu nessa altura e nessa nação não foi um acaso. Os ingleses são um povo admirável de serviço ao colectivo e de grande espírito cívico.

A missão define a identidade temporária de um 2.2. São em geral missões charneira, de grande delicadeza, realizadas por um só ser ou em conjunto com vários outros que, amiúde, só se vão conhecendo durante o desenrolar da operação.

A razão por que esse número lhes foi dado, é a de que à Terra tem vindo a ser oferecida a escolha entre a continuação do actual estado de coisas ou a inauguração de uma nova era de paz, amor, prosperidade e justiça para todos. A essa primeira oferta geral de uma nova linha de tempo foi dada o nome de Terra 2, mais precisamente, Terra 2.0.

A razão de se chamar Terra 2 é porque a versão anterior do jogo — que é a que ainda se continua a jogar na Terra — está a ser retirada, por desactualizada das circunstâncias evolutivas do planeta. É o jogo Terra 1, que já só com alguma má-fé é vendido nas lojas do Centro Comercial da Galáxia. Em geral a incautos, a animais desejosos de adquirir uma alma humana, a seres com grande espírito de aventura ou de abnegação, ou então aos que estejam aborrecidos em lugares privilegiados do universo.

Claro que continuam a decorrer prolongadas negociações, que envolvem pleitos cósmicos e perante o Tribunal da História. Estas tratações têm em vista fazer os Demiurgos, ou Controladores, que foram os produtores e realizadores do Jogo Terra 1 e que ainda realizam a sua manutenção, a desistirem ou transaccionarem os seus direitos a manter o jogo em circulação. Constando que lhes terá sido oferecido um novo tipo de Terra paralela, ao que eles estariam a aceder. Uma possibilidade que lhes teria sido sugerida depois da reintegração do 11º Reino no Uno e que seria extensível aos Interdimensionais.

A versão Terra 2 é a de um planeta de paz, de amor, de energia gratuita e de trabalho livre, uma versão possível da Terra que se crê será escolhida por uns 97% da população humana. A segunda oferta feita à Humanidade é a versão 2.2 do Jogo. Vai muito mais além da versão 2.0, mas crê-se que só será escolhida por uma percentagem ínfima da população, 0,001%. Isto quando ocorrer o grande plebiscito à escala mundial, efectuado pelas Nações Unidas algures por volta de 2020.

Como essa versão 2.2 implica o abdicar da identidade separada e da ilusão do livre-arbítrio individual, é uma opção que só será reconhecida pelos que tenham trabalhado sobre si ou chegado à conclusão de que a percentagem de livre-arbítrio no humano é muito pequena. Aqueles que tiveram a humildade de reconhecer que somos um conjunto de programas bioquímicos de fácil previsibilidade.

A esses 2.2 foram oferecidas três opções: continuarem na nova Terra como instrutores, sanadores e facilitadores do Jogo Terra 2; regressarem ao seu estado de repouso indiferenciado entre missões, em estado de onda quântica não coagulada, um mero potencial; ou ser-lhes atribuída uma nova identidade e missão.

Até agora não há registo de nenhum 2.2 que tenha abdicado dessa forma de estar no jogo. Dizem antes que esse estado é muito mais excitante e recompensador do que a previsibilidade dos programas binários inconscientes que regem a Humanidade.